9º Ano
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Unidade 3 – Tema 3 –A economia Europeia.
1 – A agricultura, a pecuária e a pesca.
A agricultura
europeia é produtiva graças à sua alta mecanização e a maior parte da produção
é consumida no próprio continente. Cada região do país é especializada em um
tipo de produção e a especialização é facilitada pela boa rede comercial
existente entre os países europeus.
No norte do continente temos o desenvolvimento da pecuária bovina e suína e a pesca é
desenvolvida com destaque na Rússia, Portugal, Espanha, Noruega e Islândia.
2 – A Indústria.
A parte oeste e central da Europa foi pioneira na Revolução
Industrial o que atribuiu aos países dessa região as principais regiões
industriais. Vale lembrar também que o Plano Marshall obteve papel importante
na criação desse espaço dinâmico, já que ele envolve os países que participaram
da Segunda Guerra Mundial (Reino Unido, França, Itália e Alemanha).
3 – O setor de serviços.
Esse setor é responsável por 50% da riqueza do continente.
- Comércio
– os principais fluxos comerciais do continente ocorrem com os países
desenvolvidos (Japão e EUA). Essa atividade é responsável pelo
desenvolvimento de outros serviços como o dos transportes e os serviços
bancários.
- Turismo
– o continente europeu é o principal centro turístico mundial e é
responsável pela metade da renda gerada pela atividade no mundo todo.
- Saúde e
educação – são serviços importantes financiados pelos governos de
quase todos os países.
4 – Nível de desenvolvimento diferenciado.
O continente europeu possui, de forma generalizada, um
elevado nível de desenvolvimento econômico e tecnológico, mas há contrastes
entre os países devido às suas características históricas, políticas e
econômicas. Assim podemos dividir a Europa em três tipos de países:
- Países de
desenvolvimento elevado.
- Países de
desenvolvimento intermediário.
- Países de
desenvolvimento fraco.
5 – Reino Unido.
- Grandes
indústrias têxteis – essa modalidade de indústria tem grande tradição
no país que remonta à Idade Média, porém, devido ao reduzido custo da mão
de obra, essas indústrias têm se transferido para o Extremo Oriente.
- Siderurgia
– a atividade obteve êxito em razão da grande quantidade de carvão e
minério de ferro.
- Indústria
de transformação – as indústrias de transformação de bens são
prósperas graças ao sucesso da siderurgia de base.
Ø
Os setores modernos.
- Indústria
petroquímica – se desenvolveu graças à descoberta de reservas
petrolíferas no Mar do Norte.
- Indústria
eletroeletrônica – se desenvolveu graças ao desenvolvimento dos
sistemas produtivos.
- Indústria
alimentícia – a indústria tem destaque por causa dos alimentos que
importa (cerais e soja), a indústria se destaca na transformação de
alimentos para o consumo.
6 – França.
- A
agricultura – a França é o país com maior quantidade de áreas
agricultáveis do continente. Com exceção de produtos tropicais, o país
supre com sua produção as necessidades da população e ainda produzem
excedentes. Nessa atividade temos destaque a beterraba e o trigo.
- Indústria –
modernas indústrias do setor têxtil, químico e de produção de máquinas são
as mais importantes do país, mesmo com suas jazidas de ferro esgotadas.
- Energia
– grande parte dos recursos energéticos do país são importados (carvão e
petróleo), porém um grande projeto de produção de energia termonuclear faz
com que o país exporte energia elétrica para outros países.
- Turismo
– A França está entre os três países com o maior fluxo turístico do mundo
com dois grandes polos de atração Paris
e o litoral mediterrâneo.
7 – Alemanha.
- Energia e
desenvolvimento industrial – o setor industrial alemão é muito
desenvolvido graças à abundância de
carvão mineral e a sua densa
rede hidrográfica.
- Estímulo à
industrialização – os produtos agrícolas são importados devido às
poucas áreas cultiváveis do país, mas no ramo industrial o governo alemão
incentivou o crescimento das indústrias, o que transformou o a Alemanha no
primeiro produtor de máquinas e também tem como destaque as indústrias
química, farmacêutica, eletromecânica e de construção mecânica.
8 – Países mediterrâneos.
- Atividades
econômicas comuns – devido aos fatores naturais semelhantes esses
países apresentam pontos comuns da economia. Os três países têm destaque
na indústria têxtil, calçadista e de revestimentos cerâmicos, assim
como o setor turístico também é
importante fonte de renda.
- Portugal
– o crescimento industrial do país é recente e só cresceu notavelmente
após a sua entrada na União Europeia.
- Espanha
– a indústria se concentra ao norte na Catalunha e no País Basco com
destaque para os setores têxtil, siderúrgico, metalúrgico e químico. Nas
Astúrias ao norte e ao sul na Andaluzia destaca-se a exploração mineral e
Madri é o centro industrial e financeiro do país.
- Itália – foi
o primeiro país mediterrâneo a alcançar um desenvolvimento industrial notável,
porém esse desenvolvimento não ocorreu de forma homogênea no território
italiano, isso permite que se faça uma divisão do país em três regiões
para estudar a sua industrialização, essas são: região Norte e Nordeste, são as mais desenvolvidas, o relevo
possibilitou a construção de usinas hidrelétricas além dessa região
possuir diversas jazidas de gás natural; região Central, teve o seu dinamismo alcançado recentemente
devido ao crescimento das médias e pequenas empresas; e a região Sul permanece basicamente
agrária, porém a ajuda econômica da União Europeia tem melhorado os
indicadores sociais e econômicos dessa região.
9- Países do Norte Europeu.
Região com clima predominantemente polar e frio cujos países,
graças ao relevo, obtêm características semelhantes de produção e se dedicam
exclusivamente à pesca, produção de energia hidrelétrica e extração vegetal.
- Suécia
– destaque para as indústrias químicas e siderúrgicas.
- Finlândia
– a principal atividade econômica é a exploração vegetal que foi alongada
e desenvolvida graça ao emprego do reflorestamento.
- Islândia e
Noruega – países com o maior IDH do mundo tem a economia baseada na
pesca, na Noruega ainda destacam-se a indústria da madeira, da exploração
de gás natural e de petróleo.
Unidade 2 - Tema 3 - Organizações econômicas
- A globalização e o comércio mundial.
A expressão globalização surgiu na década de 1980 e se refere
ao processo da intensificação de trocas de mercadorias, serviços, capitais etc.
ao redor do mundo, porém sociólogos afirmam que o processo é mais antigo. Ele
começa no período das grandes navegações e vai se intensificando cada vez mais
até a globalização total que temos nos dias de hoje, onde, praticamente, todas
as regiões do mundo estão interligadas através dos meios de comunicação, de
transporte e dos fluxos de mercadorias e de pessoas.
Quanto aos fluxos de serviços existem dois tipos, os fluxos
materiais e os imateriais. O primeiro se trata da troca de produtos,
mercadorias, capitais ou pessoas. Já o segundo se trata do fluxo de serviços
como os de seguro de automóveis, as redes de informação e de comunicação.
*Multinacionais.
As multinacionais são empresas pertencentes a determinados
países, mas que possuem filiais em vários países do globo, essas empresas são a
principal característica da Terceira Revolução Industrial, elas evoluíram de
acordo com o avanço tecnológico ocorrido no mundo todo, elas também intensificaram
a competitividade. Normalmente as multinacionais pertencem aos países
desenvolvidos e se instalam em países subdesenvolvidos que oferecem condições
especiais como mão-de-obra barata, presença de matérias-primas e políticas que
garantem menor custo. Sendo assim a economia desses países dependem
praticamente dos países sede.
-Globalização financeira.
A globalização financeira é o processo que a livre circulação
de capitais acontece entre os países, ou seja, a barreira alfandegária é
praticamente extinta. As aplicações de capitais são feitas de forma imediata,
porém se ocorrer alguma crise nos países centrais ela se alastra como um efeito
dominó atingindo todos os países.
-Globalização dos serviços.
Os fluxos de serviços parecem abstratos, mas quando
analisados vemos grandes números, esses se mostram principalmente em países
onde há grande fluxo turístico.
-Comércio internacional.
A OMC (Ordem Mundial do Comércio) é o órgão que regula o
comércio mundial e aplica punições e penalidades, ela visa romper as barreiras
alfandegárias e diminuir os custos. No entanto as maiores trocas comerciais
ainda se concentram nas principais zonas centrais Ásia, Europa e Estados
Unidos, mesmo os países subdesenvolvidos serem maior número de membros da OMC.
Isso causa uma diferença econômica muito grande entre os países desenvolvidos e
os subdesenvolvidos, gerando protestos no mundo todo.
-Movimentos antiglobalização.
Os movimentos antiglobalização alegam que o processo só
beneficia os países ricos e aumenta ainda mais a desigualdade entre pobres o
ricos. Um aspecto que mostra a desigualdade da globalização é o cultural, pois
grande parte da cultura difundida no mundo é dos países desenvolvidos do norte,
por exemplo, o tipo de música que a maioria das pessoas ouvem.
-Globalização ilegal.
O processo de globalização também ajudou o aumento das
atividades ilegais, a facilidade de comunicação proporcionada pelo avanço da
tecnologia e também a evolução dos transportes facilita o processo que envolve
o tráfico de drogas, de armas ou qualquer outra atividade ilícita.
-Grandes blocos comerciais.
Os grandes blocos econômicos são formados por países que
fazem trocas comerciais entre si. Embora pudesse haver uma mundialização homogênea da economia não é
isso que acontece, as riquezas estão cada vez mais concentradas nas mãos dos
países desenvolvidos, a criação do neoliberalismo intensificou ainda mais e
diminuiu a ação do Estado nas transações internacionais. Os blocos econômicos
podem ser classificados em quatro tipos:
-Zona de livre-comérico, há redução ou eliminação de
tarifas alfandegárias entre os países-membros.
-União aduaneira, abre o mercado interno para produtos
e serviços dos países-membros e define regras para que os países do grupo
realizem trocas com países que não estão nele.
-Mercado comum, permite livre circulação de pessoas,
mercadorias e serviços entre os países-membros.
-União econômica e monetária, os membros adotam mesma
política de desenvolvimento e a mesma moeda.
-União Europeia.
União econômica e monetária que adota como moeda o Euro e
engloba grande parte dos países da Europa. A Inglaterra participa do grupo, mas
não aderiu ao Euro.
-Asean.
Criada no contexto da Guerra Fria englobava, inicialmente,
países asiáticos que aderiram ao comunismo. Tornou-se zona de livre-comércio em
1992, mas as disparidades econômicas dificulta as relações entre os membros.
-Apec.
Formado em 1989 por iniciativa da Austrália e com o apoio dos
EUA, o grupo visava não formar um grupo político, mas apenas aproveitar o
livre-comércio. Dentre o países-membros temos China, EUA, Japão, Chile entre
outros.
-Mercosul.
Criado em 1991 é constituído pela Argentina, Brasil, Paraguai
e Uruguai. O objetivo do bloco é eliminar as tarifas de mercadorias produzidas
por seus membros. Em 1995 foi instalada zona de livre-comércio onde cerca de
90% das mercadorias não possuem tarifas alfandegárias.
-Nafta.
Constituído pelos três países da América do Norte (EUA,
Canadá e México), o Nafta é uma zona de livre-comércio, porém as diferenças
socioeconômicas entre os países trazem problemas principalmente para o México,
como a grande emigração de mexicanos para os EUA, muitas vezes ilegalmente.
-Alca.
A criação desse bloco econômico possuía os mesmos objetivos
que os do Nafta, porém, a população dos países latino-americanos, iniciou uma
onda de protestos contra a criação do bloco, justamente por saber dos problemas
que esse trouxe ao México. A data inicial de seu funcionamento estava prevista
para 2005, no entanto não vigorou até presente data (Março/2012).
-Protecionismo agrícola.
Para haver mais competitividade no mercado internacional o
Estado subsidia a agricultura, ou seja, proporciona investimentos que aumentam
a produção e barateiam os produtos. Os países desenvolvidos são os que mais se
beneficiam com os subsídios agrícolas.
-Rodada de Doha.
Reunião ocorrida em Doha, capital do Catar, com o objetivo de
diminuir ainda mais a participação do Estado na economia favorecendo ainda mais
o livre-comércio, porém não houve muitos progressos, pois o países
desenvolvidos não aceitam remover suas barreiras alfandegárias para produtos
agrícolas exportados pelos países pobres.
-G-20.
Grupo de 20 países em desenvolvimento que buscam se
fortalecer perante os países mais desenvolvidos, a sua força é expressiva, pois
concentram 60% da população mundial e representam 30% das exportações agrícolas
pelo mundo.
Unidade 3 - Tema 1 - Quadro Natural
Capítulo 9- Europa: meio natural.
1-Continente ou península da Ásia?
No ponto de vista geológico a Europa não passa de uma
extensão da Ásia, mais precisamente uma península. No entanto algumas barreiras
físicas como os Montes Urais, os mares Negros e Cáspio e a Cordilheira do
Cáucaso, fizeram com que a Europa se separasse culturalmente. Socialmente e
politicamente da Ásia. Além disso, o continente é berço de movimentos políticos
importantes que repercutiram e repercutem no mundo todo, como o capitalismo, a
democracia, o socialismo etc.
-Regiões Naturais.
Europa norte: prevalecem
as planícies e montanhas e os climas frios e polares. A vegetação é composta de
coníferas, a principal atividade econômica é a extração vegetal para a
indústria de papel e celulose.
Europa oceânica e continental: prevalecem planícies de clima temperado, na porção
continental também aparece o clima semi-árido com vegetação de estepes. Nessa
região temos as grandes cidades como Paris, Berlim e Moscou.
Europa do Sul: Montanhosa
e de clima mediterrâneo, o relevo alto dificulta a fixação humana. Mas também
possui planícies e planaltos que possuem intensa fixação humana.
-Principais Rios.
A rede hidrográfica da Europa é extensa e exerceu e exerce
papel relevante na navegação, produção de energia, irrigação, piscicultura e
turismo. Os principais rios europeus são:
Rio Volga: o mais extenso
da Europa. Embora fique congelado por 4 meses é responsável por 50% do tráfego
fluvial, além de abrigar várias hidrelétricas.
Rio Danúbio: banha quatro
capitais europeias Viena, Budapeste, Bratislava e Belgrado. A bacia do Danúbio
permite a integração entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo.
Rio Reno: Integra
economicamente Suíça, Alemanha, França e os Países Baixos.
segunda-feira, 18 de março de 2013
Filme e Roteiro - A Matadeira de Jorge Furtado.
http://www.youtube.com/watch?v=sYNchdMkfe4
A MATADEIRA
Roteiro em modo texto: [ Download ]
A MATADEIRA
roteiro de Jorge Furtado
versão de 23/11/1993
produção: Casa de Cinema de Porto Alegre
*******************************************************************
CENA 0 - CARTÃO
"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda
a história, resistiu até o esgotamento
completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão
exata do termo, caiu no dia cinco de outubro
de 1897, ao entardecer, quando caíram os seus
últimos defensores, que todos morreram. Eram
quatro apenas: um velho, dois homens feitos
e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados".
Euclides da Cunha, "Os Sertões".
CENA 1 - QUARTEL / ESTÚDIO
Um jovem OFICIAL INGLÊS mostra uma pequena peça metálica.
Fora de quadro, um INTÉRPRETE vai traduzindo o que ele diz. O
intérprete fala muito alto, quase gritando, enquanto o oficial
inglês fala em tom bem baixo. O som ambiente sugere um grande
espaço e um grande público, que não é mostrado.
OFICIAL INGLÊS
And this... is the fuse.
INTÉRPRETE (FQ)
Esta é a espoleta.
OFICIAL INGLÊS
The fuse is the main piece of the trigger.
INTÉRPRETE (FQ)
A espoleta é a peça principal do gatilho.
OFICIAL INGLÊS
The trigger is the main piece of the gun.
INTÉRPRETE (FQ)
O gatilho é a parte principal do canhão.
OFICIAL INGLÊS
So, if you have no fuse, you have no gun.
INTÉRPRETE (FQ)
Logo, se vocês não tiverem espoleta, vocês não
tem canhão.
OFICIAL INGLÊS
(olhando para os dois lados) Do you have some
question?
O oficial inglês, o intérprete e vários OFICIAIS BRASILEIROS
estão sobre um palanque.
INTÉRPRETE (FQ)
Alguma pergunta?
Os oficiais brasileiros se entreolham. Sem perguntas.
OFICIAL INGLÊS
(pausa) So, here it is. (volta-se para o
fundo) The Withworth 32.
O fundo do palanque, uma imensa porta metálica, se abre revelando
o canhão "Withworth 32", a "Matadeira".
CENA 2 - PÁTIO DO QUARTEL / ESTÚDIO
Detalhes do canhão em movimento, puxado por várias juntas de de
bois. Os planos iniciais são bastante fechados. No final da
sequência revela-se o conjunto: o imenso canhão sobre rodas,
puxado por vinte juntas de bois e acompanhado por cerca de cem
soldados da infantaria e da cavalaria.
LOCUÇÃO
"Vi a grande máquina avançando,
escurecendo o sol.
Todos se deitavam em seu caminho,
ninguém fugia.
Meu amor e eu olhamos, sem compreender,
este mistério sangrento.
"Deitem-se, deitem-se!" gritavam todos.
"A grande máquina é a história!"
CENA 3 - ESCRITÓRIO / ESTÚDIO
Um PROFESSOR sentado num escritório. O fundo é uma grande estante
coberta de livros. Ele fala diretamente para a câmera.
PROFESSOR
O massacre de Canudos tem uma causa bastante
simples.
CENA 4 - TABLE-TOP
Animação. O texto iniciado na CENA 3 é didaticamente ilustrado
numa animação.
LOCUÇÃO DO PROFESSOR
Com o fim do ciclo da mineração no Brasil, a
economia do nordeste, que era baseada
especialmente no gado e seus derivados, entra
em colapso. O sertão se transforma num imenso
sistema de economia de subsistência. Neste
momento estoura, nos Estados Unidos, a guerra
da Secessão. Acontece que a Europa,
principalmente a Inglaterra, dependia do
algodão americano para sua indústria. E o
nordeste brasileiro poderia suprir esta
necessidade. Estradas de ferro são construídas
e linhas de vapor ligam o nordeste a
Liverpool. Os sertanejos passam a ser
aliciados numa ampla rede de favores onde os
coronéis doam pequenos bens materiais e o
direito temporário sobre o uso da terra. Um
dia, a guerra acabou. A Inglaterra normaliza
sua relações com os Estados Unidos e a
economia do nordeste entra em colapso.
Os coronéis, sem recursos, não conseguem manter os laços de
dependência com a antiga clientela. Este quadro caótico favorece
o surgimento de bandos de cangaceiros e de ajuntamentos em torno
de líderes religiosos, como foi o caso de Canudos.
CENA 5 - CAMINHO PARA CANUDOS / ESTÚDIO
A Matadeira, puxada por várias juntas de bois e empurrada por
cerca de dez soldados, não consegue vencer um obstáculo do
terreno. A cena é mostrada em planos bastante fechados, de modo a
se perceber o esforço físico dos soldados e o peso do canhão. Os
soldados gritam muito. Quando finalmente as rodas do canhão
conseguem vencer o obstáculo do terreno, sob a comemoração dos
soldados, vemos, em grande plano geral, a matadeira como uma
pequena peça no horizonte, perdida na vastidão do sertão e com
dezenas de obstáculos pela frente, alguns maiores que o que
acabou de ser vencido.
CENA 6 - PALÁCIO DO CATETE / ESTÚDIO
Brasão da república.
LOCUÇÃO
Passamos agora a transmitir, diretamente do
palácio do Catete, a palavra do excelentíssimo
Sr. Prudente de Moraes, Presidente da
República do Brasil.
Num púlpito presidencial, Prudente de Moraes fala, olhando
diretamente para a câmera. Imagem em vídeo.
PRUDENTE DE MORAES
A república não pode admitir que uma pequena
comunidade do sertão baiano sirva de exemplo
de sublevação aos ideais da modernidade. Esta
afronta à república, promovida pela
caudilhagem monárquica, deve ser reprimida a
qualquer custo. (aplausos) Sabemos que, por
trás dos fanáticos de Canudos trabalha a
política. Mas nós estaremos preparados, tendo
todos os meios para vencer, seja como fôr,
contra quem fôr. (aplausos)
O presidente termina o pronunciamento. Algumas pessoas se
aproximam e o cumprimentam. Sobre esta imagem entra a locução.
LOCUÇÃO
Acabamos de transmitir a palavra do
excelentíssimo presidente da república. Como
todos puderam ver, a causa do massacre de
Canudos é muito simples.
CENA 7 - SERTÃO / ESTÚDIO
Um sertanejo, a mulher e seis filhos estão na frente de um
casebre. A mulher tem uma criança pequena no colo e está grávida.
O homem fala direto para a câmera.
SERTANEJO
Eu não entendo essa coisa de república e
monarquia, não senhor. Eu entendo é de cabra e
bode. A gente morava num lugar que era longe
de prá lá dos Moura, sim senhor. Aí agarraram
de botar cerca de arame que os bode e as cabra
não podia se acercar do pasto. Se os bode e as
cabra não come eles morre, é que nem gente. Aí
a gente agarrou e veio pra Canudos que o seu
Antônio deixou a gente ficar por aqui, que
aqui não tem cerca, a terra é de todos, sim
senhor. Agora querem tirar a gente daqui. Se a
república não deixa os bode e as cabra se
acercar do pasto então gente é pela monarquia,
sim senhor. A gente agora vai brigar.
CENA 8 - ACAMPAMENTO DO EXÉRCITO / ESTÚDIO
Ao lado da matadeira, alguns soldados fazem um churrasco. Os
arreios presos ao canhão estão vazios. Vários grupos de soldados
fazem churrascos. Um grupo de soldados carneia um boi.
CENA 9 - IGREJA / ESTÚDIO
Dramalhão mexicano. Preto e branco. Os personagens atuam de forma
muito exagerada. A locução e a trilha têm um tom melodramático.
Casamento de Conselheiro. Os noivos Antônio e BRASILINA na
igreja, o cumprimento dos parentes, o beijo dos noivos. A MÃE de
Antônio demonstra clara desaprovação pela nora.
LOCUÇÃO
O sol parecia brilhar na vida de Antônio
Vicente naquela tarde de verão. Na matriz de
Quireramobim, no primeiro dia de 1857, Antônio
Vicente unia-se em laços matrimoniais com
Brasilina. Mal sabia nosso humilde comerciante
que aquele casamento seria o início de sua
ruína.
CENA 10 - CASA DE CONSELHERIRO / ESTÚDIO
Sobe a música. Passagem de tempo. Noite no sertão. Numa humilde
choupana, Brasilina está costurando junto ao fogo. Antônio, que
conferia alguns cadernos, é chamado por sua mãe a um canto da
sala. A mãe sussurra algo no ouvido do filho. Ele olha para a
mulher. A mãe volta a sussurrar. Antônio parece muito perturbado.
Pega uma mala e se despede de Brasilina e da mãe. Brasilina vem
até a janela e abana para Antônio, que se afasta à cavalo. A mãe
diz que está com sono e deixa Brasilina sozinha.
LOCUÇÃO
Em sua humilde choupana em Itapicurú, Antônio
não conseguia viver uma vida tranquila com
Brasilina. Maria Chana, mãe de Antônio
Vicente, dizia que Brasilina tinha um amante.
Instigado por Maria Chana, Antônio resolve
então armar uma cilada para Brasilina.
CENA 11 - SERTÃO / ESTÚDIO/NOITE
Antônio faz meia volta com o cavalo. Cavalga em direção a sua
casa. Desmonta, amarra o cavalo e se esgueira em direção à casa.
Fica de tocaia, vigiando a janela. De repente, um vulto caminha
ao lado da casa. Um homem tenta entrar pela janela. Antônio,
transtornado, pega sua espingarda e mata o sujeito. Assustada com
o tiro, Brasilina sai da casa e, junto com Antônio, chegam para
ver a identidade do morto. é sua mãe, Maria Chana, vestida de
homem.
LOCUÇÃO
Antônio, de tocaia, viu se concretizarem suas
piores suspeitas. O amante de Brasilina se
esgueirava pelo jardim. Tomado de fúria,
Antônio abate o traidor com um tiro certeiro.
E querendo descobrir quem usurpava o leito de
sua bem amada, Antônio Vicente tem uma cruel
revalação: matou sua própria mãe.
CENA 12 - CASA DE CONSELHEIRO / ESTÚDIO/NOITE
Antônio tem uma crise de choro. Se abraça a Brasilina, que lhe dá
amparo. Os dois entram em casa, abraçados. Brasilina tenta
consolar Antônio. Ele finalmente se acalma e começa a tirar a
roupa. Sob o casaco de couro e as calças, Antônio veste apenas um
camisolão. Abre o armário para guardar a roupa. Dentro do
armário, nú, um soldado da brigada. Brasilina faz uma cara de
quem foi pega em flagrante. Antônio, entendendo que matara a mãe
e fôra traído pela esposa, se desespera. Arranca os cabelos, rola
no chão. Levanta-se, pega uma bíblia e um crucifixo e sai para a
rua, vestindo apenas o camisolão. Brasilina tenta detê-lo.
LOCUÇÃO
Freud afirmava que "as religiões são neuroses
coletivas e as neuroses são religiões
individuais". Podemos, tentar explicar
Canudos, como nos ensinaram na escola, através
da "religião individual" de seu líder, Antônio
Conselheiro. Ele já foi classificado como
líder camponês marxista, homem santo,
estrategista militar e como um completo
lunático. Provavelmente todas as definições
são justificadas e nenhuma delas, sozinha,
explica Canudos. Euclides da Cunha define
Conselheiro como um "infeliz, destinado aos
cuidados médicos, que veio, impelido por uma
potência superior, bater de encontro à
civilização, indo para a história como poderia
ter ido para o hospício".
CENA 13 - SERTÃO / ESTÚDIO/NOITE
Antônio, enlouquecido, parte em direção ao deserto.
CENA 14 - ACAMPAMENTO DO EXÉRCITO / ESTÚDIO
Acampamento dos soldados junto a matadeira. Sob o sol do meio
dia, todos dormem em barracas improvisadas. Um grupo de crianças
maltrapilhas se aproxima, cruzando o acampamento. Trazem um bode
velho, com um sino no pescoço. Ouve-se apenas o vento, as moscas
e o som do sino do bode. Quando estão bem próximas à Matadeira,
as crianças começam a gritar e, com paus e pedras, investem sobre
o canhão tentando destruí-lo. Os soldados se acordam e cercam as
crianças. Atiram para matar. Uma delas, baleada e gritando,
consegue romper o cerco dos soldados e rolar uma ribanceira.
Todas as outras estão mortas, algumas sobre o canhão.
CENA 15 - ESTÚDIO DE TV / ESTÚDIO
Um pregador do tele-evangelismo (tipo Rex Humbard ou Pastor
Fanini) está em um púlpito. (é o mesmo ator que fez o Antônio
Conselheiro na cena 8. Agora ele está de terno e gravata, cabelo
muito penteado, sem barba). Ao fundo, monitores de tv com a sua
imagem. Ele começa a pregar. No início está calmo e controlado. A
medida que os aplausos aumentam, vai se emocionando, se
alterando. Termina a pregação aos gritos.
PASTOR
Muitos deram suas vidas pela construção de uma
sociedade mais justa. Que a sua morte não seja
em vão. (aplausos) A terra não tem dono. A
terra é de quem nela trabalha. (aplausos) De
cada um segundo as suas possibilidades e a
cada um segundo suas necesidades. (aplausos)
Aleluia! O sertão vai virar mar e o mar vai
virar sertão! Aleluia! (aplausos) E haverá um
só pastor e um só rebanho! Há de chover uma
chuva de estrelas aí será o fim do mundo!
(aplausos) Aleluia! E em 1900 se apagarão as
luzes! Aleluia! (aplausos)
CENA 16 - ARREDORES DE CANUDOS / ESTÚDIO
Ao lado da Matadeira, a tropa observa em silêncio, ao longe, o
que restou da cidade. (cais do porto)
Canudos parece uma vila fantasma. (maquete)
Um tenente dá a ordem de disparar o canhão. O canhão dispara num
estrondo, que ecoa pelo sertão. (cais do porto)
O projétil corta o céu. (Bahia)
O projétil acerta o sino na torre da igreja "fazendo-o saltar
pelos ares, revoluteando, estridulamente badalando, como se ainda
vibrasse um alarme". (maquete)
CENA 17 - PRAÇA DE CANUDOS / ESTÚDIO
O sino cai no chão da praça.
Os últimos quatro defesores de Canudos, um velho, dois homens e
um menino, estão no meio da praça. À sua frente, no chão, o sino
da igreja. Prontos para morrer, eles carregam lentamente as suas
precárias armas. O velho começa a rezar. A criança e os dois
homens logo o acompanham na ladainha.
LADAINHA
"Uma incelência, minha virgem do rosário / Que
do vosso ventre abriu-se o sacrário / Sacrário
aberto saiu o senhor fora / Receber um'alma
que vai para a glória. / Duas incelência minha
virgem do Rosário ... "
CENA 18 - CAMPO DE BATALHA / ESTÚDIO
A tropa, "rugindo raivosamente", investe sobre a cidade. Os
soldados cantam o hino da república. Uma câmera na mão (imagens
jornalísticas em preto e branco) entra na cidade com a tropa.
Imagens de destruição e morte. Os sons da ladainha se misturam
aos gritos dos soldados e aos tiros. O som da cena desaparece em
fade e sobe, com a trilha, a locução do poema de Vonnegut:
LOCUÇÃO
"Vi a grande máquina avançando,
escurecendo o sol.
Todos se deitavam em seu caminho,
ninguém fugia.
Meu amor e eu olhamos, sem compreender,
este mistério sangrento.
"Deitem-se, deitem-se!" gritavam todos.
"A grande máquina é a história!"
Meu amor e eu fugimos, a máquina não nos
alcançou.
Fugimos para o alto da montanha,
deixando a história muito longe.
Talvez devêssemos ter ficado e morrido,
mas não pensamos assim.
Fomos ver onde a história tinha estado e,
meu deus,
como os mortos cheiravam mal".
CENA 19 - RUÍNAS DE CANUDOS / ESTÚDIO + ARQUIVO
Casas destruídas, cadáveres pelo chão. Imagens de arquivo de
várias guerras, fotos de destruição.
Cenas atuais de miséria (Bahia).
CENA 20 - FUNDO DO RIO / ESTÚDIO
Imagens sacras afundando.
CENA 21 - FUNDO DO RIO / ESTÚDIO
Sob as águas da barragem, a cruz da igreja é iluminada pela luz
trêmula do sol. O último anjo afunda lentamente.
FIM
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(c) Jorge Furtado, 1993-94
Casa de Cinema de Porto Alegre
http://www.casacinepoa.com.br
23/11/1993
roteiro de Jorge Furtado
versão de 23/11/1993
produção: Casa de Cinema de Porto Alegre
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CENA 0 - CARTÃO
"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda
a história, resistiu até o esgotamento
completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão
exata do termo, caiu no dia cinco de outubro
de 1897, ao entardecer, quando caíram os seus
últimos defensores, que todos morreram. Eram
quatro apenas: um velho, dois homens feitos
e uma criança, na frente dos quais rugiam
raivosamente cinco mil soldados".
Euclides da Cunha, "Os Sertões".
CENA 1 - QUARTEL / ESTÚDIO
Um jovem OFICIAL INGLÊS mostra uma pequena peça metálica.
Fora de quadro, um INTÉRPRETE vai traduzindo o que ele diz. O
intérprete fala muito alto, quase gritando, enquanto o oficial
inglês fala em tom bem baixo. O som ambiente sugere um grande
espaço e um grande público, que não é mostrado.
OFICIAL INGLÊS
And this... is the fuse.
INTÉRPRETE (FQ)
Esta é a espoleta.
OFICIAL INGLÊS
The fuse is the main piece of the trigger.
INTÉRPRETE (FQ)
A espoleta é a peça principal do gatilho.
OFICIAL INGLÊS
The trigger is the main piece of the gun.
INTÉRPRETE (FQ)
O gatilho é a parte principal do canhão.
OFICIAL INGLÊS
So, if you have no fuse, you have no gun.
INTÉRPRETE (FQ)
Logo, se vocês não tiverem espoleta, vocês não
tem canhão.
OFICIAL INGLÊS
(olhando para os dois lados) Do you have some
question?
O oficial inglês, o intérprete e vários OFICIAIS BRASILEIROS
estão sobre um palanque.
INTÉRPRETE (FQ)
Alguma pergunta?
Os oficiais brasileiros se entreolham. Sem perguntas.
OFICIAL INGLÊS
(pausa) So, here it is. (volta-se para o
fundo) The Withworth 32.
O fundo do palanque, uma imensa porta metálica, se abre revelando
o canhão "Withworth 32", a "Matadeira".
CENA 2 - PÁTIO DO QUARTEL / ESTÚDIO
Detalhes do canhão em movimento, puxado por várias juntas de de
bois. Os planos iniciais são bastante fechados. No final da
sequência revela-se o conjunto: o imenso canhão sobre rodas,
puxado por vinte juntas de bois e acompanhado por cerca de cem
soldados da infantaria e da cavalaria.
LOCUÇÃO
"Vi a grande máquina avançando,
escurecendo o sol.
Todos se deitavam em seu caminho,
ninguém fugia.
Meu amor e eu olhamos, sem compreender,
este mistério sangrento.
"Deitem-se, deitem-se!" gritavam todos.
"A grande máquina é a história!"
CENA 3 - ESCRITÓRIO / ESTÚDIO
Um PROFESSOR sentado num escritório. O fundo é uma grande estante
coberta de livros. Ele fala diretamente para a câmera.
PROFESSOR
O massacre de Canudos tem uma causa bastante
simples.
CENA 4 - TABLE-TOP
Animação. O texto iniciado na CENA 3 é didaticamente ilustrado
numa animação.
LOCUÇÃO DO PROFESSOR
Com o fim do ciclo da mineração no Brasil, a
economia do nordeste, que era baseada
especialmente no gado e seus derivados, entra
em colapso. O sertão se transforma num imenso
sistema de economia de subsistência. Neste
momento estoura, nos Estados Unidos, a guerra
da Secessão. Acontece que a Europa,
principalmente a Inglaterra, dependia do
algodão americano para sua indústria. E o
nordeste brasileiro poderia suprir esta
necessidade. Estradas de ferro são construídas
e linhas de vapor ligam o nordeste a
Liverpool. Os sertanejos passam a ser
aliciados numa ampla rede de favores onde os
coronéis doam pequenos bens materiais e o
direito temporário sobre o uso da terra. Um
dia, a guerra acabou. A Inglaterra normaliza
sua relações com os Estados Unidos e a
economia do nordeste entra em colapso.
Os coronéis, sem recursos, não conseguem manter os laços de
dependência com a antiga clientela. Este quadro caótico favorece
o surgimento de bandos de cangaceiros e de ajuntamentos em torno
de líderes religiosos, como foi o caso de Canudos.
CENA 5 - CAMINHO PARA CANUDOS / ESTÚDIO
A Matadeira, puxada por várias juntas de bois e empurrada por
cerca de dez soldados, não consegue vencer um obstáculo do
terreno. A cena é mostrada em planos bastante fechados, de modo a
se perceber o esforço físico dos soldados e o peso do canhão. Os
soldados gritam muito. Quando finalmente as rodas do canhão
conseguem vencer o obstáculo do terreno, sob a comemoração dos
soldados, vemos, em grande plano geral, a matadeira como uma
pequena peça no horizonte, perdida na vastidão do sertão e com
dezenas de obstáculos pela frente, alguns maiores que o que
acabou de ser vencido.
CENA 6 - PALÁCIO DO CATETE / ESTÚDIO
Brasão da república.
LOCUÇÃO
Passamos agora a transmitir, diretamente do
palácio do Catete, a palavra do excelentíssimo
Sr. Prudente de Moraes, Presidente da
República do Brasil.
Num púlpito presidencial, Prudente de Moraes fala, olhando
diretamente para a câmera. Imagem em vídeo.
PRUDENTE DE MORAES
A república não pode admitir que uma pequena
comunidade do sertão baiano sirva de exemplo
de sublevação aos ideais da modernidade. Esta
afronta à república, promovida pela
caudilhagem monárquica, deve ser reprimida a
qualquer custo. (aplausos) Sabemos que, por
trás dos fanáticos de Canudos trabalha a
política. Mas nós estaremos preparados, tendo
todos os meios para vencer, seja como fôr,
contra quem fôr. (aplausos)
O presidente termina o pronunciamento. Algumas pessoas se
aproximam e o cumprimentam. Sobre esta imagem entra a locução.
LOCUÇÃO
Acabamos de transmitir a palavra do
excelentíssimo presidente da república. Como
todos puderam ver, a causa do massacre de
Canudos é muito simples.
CENA 7 - SERTÃO / ESTÚDIO
Um sertanejo, a mulher e seis filhos estão na frente de um
casebre. A mulher tem uma criança pequena no colo e está grávida.
O homem fala direto para a câmera.
SERTANEJO
Eu não entendo essa coisa de república e
monarquia, não senhor. Eu entendo é de cabra e
bode. A gente morava num lugar que era longe
de prá lá dos Moura, sim senhor. Aí agarraram
de botar cerca de arame que os bode e as cabra
não podia se acercar do pasto. Se os bode e as
cabra não come eles morre, é que nem gente. Aí
a gente agarrou e veio pra Canudos que o seu
Antônio deixou a gente ficar por aqui, que
aqui não tem cerca, a terra é de todos, sim
senhor. Agora querem tirar a gente daqui. Se a
república não deixa os bode e as cabra se
acercar do pasto então gente é pela monarquia,
sim senhor. A gente agora vai brigar.
CENA 8 - ACAMPAMENTO DO EXÉRCITO / ESTÚDIO
Ao lado da matadeira, alguns soldados fazem um churrasco. Os
arreios presos ao canhão estão vazios. Vários grupos de soldados
fazem churrascos. Um grupo de soldados carneia um boi.
CENA 9 - IGREJA / ESTÚDIO
Dramalhão mexicano. Preto e branco. Os personagens atuam de forma
muito exagerada. A locução e a trilha têm um tom melodramático.
Casamento de Conselheiro. Os noivos Antônio e BRASILINA na
igreja, o cumprimento dos parentes, o beijo dos noivos. A MÃE de
Antônio demonstra clara desaprovação pela nora.
LOCUÇÃO
O sol parecia brilhar na vida de Antônio
Vicente naquela tarde de verão. Na matriz de
Quireramobim, no primeiro dia de 1857, Antônio
Vicente unia-se em laços matrimoniais com
Brasilina. Mal sabia nosso humilde comerciante
que aquele casamento seria o início de sua
ruína.
CENA 10 - CASA DE CONSELHERIRO / ESTÚDIO
Sobe a música. Passagem de tempo. Noite no sertão. Numa humilde
choupana, Brasilina está costurando junto ao fogo. Antônio, que
conferia alguns cadernos, é chamado por sua mãe a um canto da
sala. A mãe sussurra algo no ouvido do filho. Ele olha para a
mulher. A mãe volta a sussurrar. Antônio parece muito perturbado.
Pega uma mala e se despede de Brasilina e da mãe. Brasilina vem
até a janela e abana para Antônio, que se afasta à cavalo. A mãe
diz que está com sono e deixa Brasilina sozinha.
LOCUÇÃO
Em sua humilde choupana em Itapicurú, Antônio
não conseguia viver uma vida tranquila com
Brasilina. Maria Chana, mãe de Antônio
Vicente, dizia que Brasilina tinha um amante.
Instigado por Maria Chana, Antônio resolve
então armar uma cilada para Brasilina.
CENA 11 - SERTÃO / ESTÚDIO/NOITE
Antônio faz meia volta com o cavalo. Cavalga em direção a sua
casa. Desmonta, amarra o cavalo e se esgueira em direção à casa.
Fica de tocaia, vigiando a janela. De repente, um vulto caminha
ao lado da casa. Um homem tenta entrar pela janela. Antônio,
transtornado, pega sua espingarda e mata o sujeito. Assustada com
o tiro, Brasilina sai da casa e, junto com Antônio, chegam para
ver a identidade do morto. é sua mãe, Maria Chana, vestida de
homem.
LOCUÇÃO
Antônio, de tocaia, viu se concretizarem suas
piores suspeitas. O amante de Brasilina se
esgueirava pelo jardim. Tomado de fúria,
Antônio abate o traidor com um tiro certeiro.
E querendo descobrir quem usurpava o leito de
sua bem amada, Antônio Vicente tem uma cruel
revalação: matou sua própria mãe.
CENA 12 - CASA DE CONSELHEIRO / ESTÚDIO/NOITE
Antônio tem uma crise de choro. Se abraça a Brasilina, que lhe dá
amparo. Os dois entram em casa, abraçados. Brasilina tenta
consolar Antônio. Ele finalmente se acalma e começa a tirar a
roupa. Sob o casaco de couro e as calças, Antônio veste apenas um
camisolão. Abre o armário para guardar a roupa. Dentro do
armário, nú, um soldado da brigada. Brasilina faz uma cara de
quem foi pega em flagrante. Antônio, entendendo que matara a mãe
e fôra traído pela esposa, se desespera. Arranca os cabelos, rola
no chão. Levanta-se, pega uma bíblia e um crucifixo e sai para a
rua, vestindo apenas o camisolão. Brasilina tenta detê-lo.
LOCUÇÃO
Freud afirmava que "as religiões são neuroses
coletivas e as neuroses são religiões
individuais". Podemos, tentar explicar
Canudos, como nos ensinaram na escola, através
da "religião individual" de seu líder, Antônio
Conselheiro. Ele já foi classificado como
líder camponês marxista, homem santo,
estrategista militar e como um completo
lunático. Provavelmente todas as definições
são justificadas e nenhuma delas, sozinha,
explica Canudos. Euclides da Cunha define
Conselheiro como um "infeliz, destinado aos
cuidados médicos, que veio, impelido por uma
potência superior, bater de encontro à
civilização, indo para a história como poderia
ter ido para o hospício".
CENA 13 - SERTÃO / ESTÚDIO/NOITE
Antônio, enlouquecido, parte em direção ao deserto.
CENA 14 - ACAMPAMENTO DO EXÉRCITO / ESTÚDIO
Acampamento dos soldados junto a matadeira. Sob o sol do meio
dia, todos dormem em barracas improvisadas. Um grupo de crianças
maltrapilhas se aproxima, cruzando o acampamento. Trazem um bode
velho, com um sino no pescoço. Ouve-se apenas o vento, as moscas
e o som do sino do bode. Quando estão bem próximas à Matadeira,
as crianças começam a gritar e, com paus e pedras, investem sobre
o canhão tentando destruí-lo. Os soldados se acordam e cercam as
crianças. Atiram para matar. Uma delas, baleada e gritando,
consegue romper o cerco dos soldados e rolar uma ribanceira.
Todas as outras estão mortas, algumas sobre o canhão.
CENA 15 - ESTÚDIO DE TV / ESTÚDIO
Um pregador do tele-evangelismo (tipo Rex Humbard ou Pastor
Fanini) está em um púlpito. (é o mesmo ator que fez o Antônio
Conselheiro na cena 8. Agora ele está de terno e gravata, cabelo
muito penteado, sem barba). Ao fundo, monitores de tv com a sua
imagem. Ele começa a pregar. No início está calmo e controlado. A
medida que os aplausos aumentam, vai se emocionando, se
alterando. Termina a pregação aos gritos.
PASTOR
Muitos deram suas vidas pela construção de uma
sociedade mais justa. Que a sua morte não seja
em vão. (aplausos) A terra não tem dono. A
terra é de quem nela trabalha. (aplausos) De
cada um segundo as suas possibilidades e a
cada um segundo suas necesidades. (aplausos)
Aleluia! O sertão vai virar mar e o mar vai
virar sertão! Aleluia! (aplausos) E haverá um
só pastor e um só rebanho! Há de chover uma
chuva de estrelas aí será o fim do mundo!
(aplausos) Aleluia! E em 1900 se apagarão as
luzes! Aleluia! (aplausos)
CENA 16 - ARREDORES DE CANUDOS / ESTÚDIO
Ao lado da Matadeira, a tropa observa em silêncio, ao longe, o
que restou da cidade. (cais do porto)
Canudos parece uma vila fantasma. (maquete)
Um tenente dá a ordem de disparar o canhão. O canhão dispara num
estrondo, que ecoa pelo sertão. (cais do porto)
O projétil corta o céu. (Bahia)
O projétil acerta o sino na torre da igreja "fazendo-o saltar
pelos ares, revoluteando, estridulamente badalando, como se ainda
vibrasse um alarme". (maquete)
CENA 17 - PRAÇA DE CANUDOS / ESTÚDIO
O sino cai no chão da praça.
Os últimos quatro defesores de Canudos, um velho, dois homens e
um menino, estão no meio da praça. À sua frente, no chão, o sino
da igreja. Prontos para morrer, eles carregam lentamente as suas
precárias armas. O velho começa a rezar. A criança e os dois
homens logo o acompanham na ladainha.
LADAINHA
"Uma incelência, minha virgem do rosário / Que
do vosso ventre abriu-se o sacrário / Sacrário
aberto saiu o senhor fora / Receber um'alma
que vai para a glória. / Duas incelência minha
virgem do Rosário ... "
CENA 18 - CAMPO DE BATALHA / ESTÚDIO
A tropa, "rugindo raivosamente", investe sobre a cidade. Os
soldados cantam o hino da república. Uma câmera na mão (imagens
jornalísticas em preto e branco) entra na cidade com a tropa.
Imagens de destruição e morte. Os sons da ladainha se misturam
aos gritos dos soldados e aos tiros. O som da cena desaparece em
fade e sobe, com a trilha, a locução do poema de Vonnegut:
LOCUÇÃO
"Vi a grande máquina avançando,
escurecendo o sol.
Todos se deitavam em seu caminho,
ninguém fugia.
Meu amor e eu olhamos, sem compreender,
este mistério sangrento.
"Deitem-se, deitem-se!" gritavam todos.
"A grande máquina é a história!"
Meu amor e eu fugimos, a máquina não nos
alcançou.
Fugimos para o alto da montanha,
deixando a história muito longe.
Talvez devêssemos ter ficado e morrido,
mas não pensamos assim.
Fomos ver onde a história tinha estado e,
meu deus,
como os mortos cheiravam mal".
CENA 19 - RUÍNAS DE CANUDOS / ESTÚDIO + ARQUIVO
Casas destruídas, cadáveres pelo chão. Imagens de arquivo de
várias guerras, fotos de destruição.
Cenas atuais de miséria (Bahia).
CENA 20 - FUNDO DO RIO / ESTÚDIO
Imagens sacras afundando.
CENA 21 - FUNDO DO RIO / ESTÚDIO
Sob as águas da barragem, a cruz da igreja é iluminada pela luz
trêmula do sol. O último anjo afunda lentamente.
FIM
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(c) Jorge Furtado, 1993-94
Casa de Cinema de Porto Alegre
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23/11/1993
segunda-feira, 11 de março de 2013
Ctrl + V - Vídeo sobre a aula do Tema 1 - Unidade 2 - Globalização e seus efeitos.
Documentário fala de como a Indústria Cinematográfica Estadunidense impõe sua cultura para os demais países do mundo ao ponto de suprimir as produções cinematográficas locais.
Unidade 2 – Tema 1 – A globalização e seus efeitos.
1 – Globalização.
É a ampliação das trocas de mercadorias, de informações e de
culturas. Essa etapa é caracterizada pelas inovações
tecnológicas e aceleração da difusão
de informações. Um dos fatores que colaboram para o processo de
globalização é a dívida externa que faz com que os países sejam obrigados a
aceitar imposições dos países que emprestam dinheiro. Assim deixam de lado
barreiras protecionistas o que facilita a entrada de empresas transnacionais nesses
países.
![]() |
A velocidade das informações e dos meios de transporte faz com que a noção de espaço diminua com o passar do tempo. Mapa de David Harvey. |
2 - As quatro fases da globalização.
Até o século XV, o mundo era considerado pequeno, ou seja, as
economias-mundo ali presentes não interagiam entre si formando assim polos:
Europa, China, Índia, África árabe e a América, segundo o historiador Fernand
Braudel, eram áreas que atuavam economicamente praticamente isoladas.
-Primeira Fase.
No século XV, com o fim do sistema feudal e com o
renascimento cultural e urbano, as ciências saíram das mãos da Igreja Católica
e passaram a serem controladas pelos, então recentes formados, Estados
Nacionais. Com isso as mais diversas áreas da tecnologia começaram a se
desenvolver e as barreiras naturais, que anteriormente eram intransponíveis
(como os desertos, as grandes cadeias de montanha, etc.) já não eram mais
obstáculos para o homem. Esse avanço favoreceu as grandes navegações e os
continentes americano e africano passaram a fazer parte da economia do mundo de
forma integrada com as demais regiões. Essa integração foi impulsionada pela
busca de metais preciosos e de matérias-primas para a metrópole. A continuidade
desse processo resultou na Primeira e na Segunda revolução Industrial que foi
marcada principalmente pelo uso de novas energias motoras (vapor, eletricidade
e combustível fóssil) e pelo avanço dos meios de transporte. Isso facilitou a
integração da economia como também favoreceu os fluxos migratórios.
-Segunda Fase.
Essa fase está relacionada à expansão imperial europeia, ocorrida
no fim do século XIX e início do século XX, e integrou ao mundo porções maiores
da Ásia e da África. Nesse mesmo período temos a evolução de novos meios de
comunicação como o telégrafo, rádio e o telefone, além dos avanços no
transporte com a expansão das ferrovias, o uso dos automóveis e aviões, que
contribuíram para ampliar e difundir as relações econômicas capitalistas.
- Terceira Fase.
Essa fase está relacionada diretamente ao período da
Guerra-Fria, a corrida armamentista
e espacial que movia as disputas
entre EUA e URSS trouxeram grandes avanços tecnológicos, avanços esses que
foram difundidos entre os países aliados às duas superpotências, contribuindo
para estreitar ainda mais os laços entre as mais diversas culturas do mundo. A
partir de 1970 teve início a revolução técnico-científico-informacional,
baseadas nas indústrias de tecnologia avançada como a microeletrônica e a informática.
-Quarta Fase.
Com a queda dos regimes socialistas o mundo passou por mais
avanços nas áreas da comunicação e dos transportes, afinal o capitalismo se
moldou para um modelo que não impunha barreiras comerciais, o livre comércio,
isso causou o aumento da concorrência entre as mais variadas empresas que
trouxeram novos meios de comunicação e de transporte mais rápidos e eficientes
diminuindo ainda mais as distâncias temporais entre as mais diversas partes do
globo. Esse processo contribui para que se formasse uma cultura global, porém
mais ligada aos países desenvolvidos.
3 – Globalização e desemprego.
O desemprego é um grande problema do mundo globalizado, uma
vez que o aumento da produção de mercadorias não acompanhou o crescimento do
número de trabalhadores, o aumento da tecnologia também é responsável por isso
justamente porque substitui a mão-de-obra pela máquina.
4 – Sociedade de Consumo.
A sociedade de consumo é marcada pelo modelo de vida que
busca definir as pessoas pelos bens materiais e não pelo conhecimento ou
caráter. A grande discussão em torno do processo está em como manter culturas
milenares dentro da sociedade.
![]() |
Quadro de Andy Wharol critica a reprodução em massa da sociedade de consumo. |
![]() |
Tirinha da Mafalda feita pelo quadrinista Quino mostra a influência da televisão na difusão dos produtos na sociedade de consumo. |
- Indústria
cultural.
Para Theodor Adorno a expansão da produção industrial foi
responsável pela criação de uma “indústria cultural” que tem como objetivo
formar padrões culturais ligados aos hábitos de consumo. Os programas de tv são
os principais responsáveis pela difusão do desejo de consumo de objetos da moda
e que se tornam rapidamente obsoletos.
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